domingo, abril 10, 2005

O AUTOR POR ELE MESMO

*** . Quando cheguei ao mundo, no ano de 1949, a 18 de março, a cegonha trouxe junto um anjo. E deixou um recado com a parteira: ... ele vai precisar, sempre. Ao tomar meu primeiro banho, soltei um grito e quase caí das mãos de minha bisavó. Creio que foi um grito e um gesto de alegria aplaudindo a vida. Aos dez, onze anos descobri a leitura através das obras infanto-juvenis, principalmente Lobato, e me despertei pela letra impressa. Então, comecei a construir meu universo de palavras, letra a letra, pondo em ordem aquele emaranhado de idéias que fervilhavam em minha cabeça. Com a morte de meu pai, em 1958, comecei a trabalhar. Iniciei, sem deixar a escola, uma peregrinação pelas mais diversas ocupações. Fui engraxate, menino de entrega, vendedor de frutas, caçador de pássaros e, mais tarde, auxiliar de contabilidade. Nesta última atividade, dei meu segundo e decisivo passo em direção à consciência humana. Conheci um colega viciado em leitura que me emprestou alguns livros da literatura, foi o estímulo que precisava para lapidar minha vocação literária. Então, viajei com mais interesse pelo mundo do conhecimento e senti que meus horizontes se alargavam a cada obra lida; descobria a mágica da leitura e a certeza de que não podemos deixar de ler. Ler, quase como respirar, é a nossa função essencial - melhor maneira de aprender a pensar e refletir sobre a vida. Por volta dos anos 70, apaixonado pela cultura, mudei-me para Belo Horizonte, onde imaginava cursar gratuitamente uma universidade. Mas, logo percebi que isso era privilégio para poucos. Acuado pelas dificuldades econômicas, tive que continuar enfrentando o mercado de trabalho. O trabalho e muitas andanças por nações cultas do mundo foram minhas universidades. Autodidata, mergulhei cedo na literatura e no jornalismo, e depois na publicidade, quando iniciei a publicar meus livros. Na literatura, sempre funcionei por deslocamento, transitando por diferentes formas literárias - nenhuma das minhas obras é semelhante à anterior. Meu anjo!?... Nem torto nem reto me ensinou a sorver a vida como quem saboreia uma poesia, mesmo que, às vezes, concreta demais. * Encontro na literatura o compromisso de uma obrigação que há anos desejava cumprir. Wel

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